COMITÊ "O PETRÓLEO TEM QUE SER NOSSO" DO RIO GRANDE DO SUL convida todos os membros da sociedade, sindicatos, estudantes, organizações políticas ou religiosas, ou qualquer outra pessoa que estiver interessada, para lutar junto conosco pela reestatização da Petrobrás, pelo fim da ANP, e para que o Pré-Sal recém descoberto traga benefícios ao povo brasileiro e não as multinacionais do ramo do Petróleo.Nosso comitê se reúne semanalmente ás quartas-feiras, 18h, na sede do SINDIPETRO/RS em Porto Alegre, Rua General Lima e Silva, 818, Cidade Baixa.Venha fazer sua a causa que deve ser de todo brasileiro!

AGENDA:
15/12 Ato em Porto Alegre contra o 10º Rodada de Leilões do nosso petróleo e gás
17/12 Ato Político-Cultural no RJ, na Candelária
18/12 Vigília em frente à ANP - RJ

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Brasil: Diferentes futuros, por Cesar Benjamin

Brasil: Diferentes futuros

por Cesar Benjamin

Duas situações em curso justificam que a sociedade brasileira reabra a discussão sobre sua política para o petróleo. No cenário internacional, os preços do barril mudaram de patamar, com um salto de dez vezes em poucos anos – de US$ 13 em 2001 para US$ 130 hoje –, e não mostram tendência de queda. Há algum componente especulativo nisso, mas também há elementos reais: o mundo pode ter atingido o pico da capacidade de produção, enquanto o consumo continua a crescer, não só pelo modelo de economia que predomina nos países ricos mas pelo rápido crescimento da China e da Índia, com suas enormes populações.

É difícil precisar, na prática, o momento desse pico, mas há muito se sabe que ele é inescapável. O petróleo é um recurso não-renovável, e a produção de qualquer campo segue uma curva em formato de sino. Como a soma dessas curvas resulta sempre em outra curva com o mesmo formato, a produção mundial, que é a soma da produção de todos os campos, também terá a forma de sino. Há bons motivos para acreditar que estamos assistindo à temida inflexão. O Energy Watch Group, da Alemanha, afirma que a capacidade de produção já passou do pico em 25 regiões importantes. Restariam poucas em que ela ainda pode crescer. A busca de novas jazidas, aperfeiçoamentos nas técnicas de extração e o uso misto de combustíveis alternativos podem estender prazos, mas sempre à custa de aumentos de custos. Diferentemente de 1972 (guerra entre Israel e países árabes) e de 1979 (Revolução no Irã), o atual choque de preços parece ser estrutural.

Ao mesmo tempo, confirmam-se as expectativas de que a Petrobras pode ter encontrado campos submarinos de grandes dimensões. É um fato excepcional: na contramão do mundo, o Brasil está às vésperas de dar um salto à frente. Os mais otimistas falam em 90 mil milhões de barris, a serem somados aos 13 mil milhões em reservas já comprovadas. Isso nos colocaria, subitamente, na quarta posição mundial, atrás de Arábia Saudita, Irã e Iraque. Formidável transformação, quando vista em perspectiva histórica.

Todo cuidado é pouco: há riquezas benditas e riquezas malditas. A regressão da capacidade produtiva de um país exposto a súbita inundação de divisas externas é um fenômeno bem conhecido, a famosa "doença holandesa". Para ficar em petróleo, recordemos que México e Indonésia torraram as suas reservas em poucos anos, permanecendo pobres e periféricos. A Noruega fez o contrário: estabeleceu uma estratégia cuidadosa de exploração, com forte presença do Estado, tendo como referência os interesses gerais da sociedade; com a bênção do petróleo, criou um fundo para sustentar o desenvolvimento do país em longo prazo. Diferentes opções, diferentes futuros.

A nossa legislação, que já era ruim -feita no auge do encantamento neoliberal-, não dá conta das novas realidades. Os campos são leiloados pela ANP (Agência Nacional do Petróleo), e todo o óleo extraído passa a pertencer às empresas vencedoras, que compram bilhetes premiados -graças a 50 anos de trabalho da Petrobras- e ganham o direito de exportar a quantidade que desejarem, no ritmo que definirem, pagando impostos risíveis. Se, em situações de emergência, tiverem que dar prioridade ao mercado interno, entregam-nos o óleo ao preço vigente no mercado internacional. O Brasil passa a importar petróleo brasileiro.

A lei atual nos impede de planejar, de forma racional, a exploração de um recurso não-renovável, estratégico, dotado de fortes implicações geopolíticas. É preciso mudá-la. Há muitas opções a serem debatidas. Porém, fundamentalmente, teremos de decidir, nos próximos anos, se queremos ser México ou Noruega.


[*] Cesar Benjamin , 53, editor da Editora Contraponto e doutor honoris causa da Universidade Bicentenária de Aragua (Venezuela), é autor de "Bom Combate" (Contraponto, 2006). O original encontra-se na Folha de S. Paulo de 31/Maio/2008.

Cópia do original em http://www.mre.gov.br/


Este artigo encontra-se em http://resistir.info/

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